Referia-se, como se sabe, ao Porto. Que o nome de Portugal deriva do primitivo
nome da cidade do Porto, ninguém pode duvidar. Quanto à realidade da Nação, o
problema é bem mais complexo. Se, como tendem a mostrar cada vez mais os estudos
recentes acerca da origem da nacionalidade, esta deriva da criação do Estado, temos de
reconhecer que a sua primeira forma, ainda muito embrionária, se identifica com o
primitivo condado de Portucale ( porque abrangia o território portucalense ) mas que a
residência pessoal dos seus condes se situava em Guimarães. Não podemos falar de
condado de Guimarães, mas também não podemos separar o condado do local que era a
sede da autoridade que governou o embrião do condado portucalense, enquanto
representante do rei de Leão e Astúrias, Afonso III, a partir de 868.
Ora o facto de Guimarães constituir provavelmente o honor, isto é o domínio
patrimonial hereditário dos condes de Portucale, ligou-o para sempre ás origens da
nacionalidade. De facto, o domínio que servia de compensação das funções públicas
exercidas pelos condes sucessores de Vímara Peres transmitiu-se muito provavelmente
aos seus sucessores e familiares que exerceram o mesmo cargo até à segunda metade do
século XI. O carácter “honorifico” ( no sentido etimológico da palavra – isto é, ligado à
função publica ) do domínio foi acentuado pela fundação do mosteiro de Santa Maria,
pela Condessa Mumadona, parente próxima dos Condes de Portucale.
Aliava-se assim a sacralidade do poder emanado do rei de Leão e Astúrias à sacralidade
do poder local expressa por meio da presença monástica que testemunhava a ligação da
Terra ao Céu, do poder temporal com o poder divino.
A ligação de Guimarães ás origens do Estado Português só veio confirmar-se
nos séculos seguintes. Antes de mais, porque, depois de extinta a linhagem dos condes
descendentes de Vímara Peres, a sua honor dominal reverteu para o rei Garcia da
Galiza, e, depois deste, para seu irmão Afonso VI. Mas veio também a constituir, com
grande probabilidade, parte integrante do património pessoal do primeiro conde
portucalense, D. Henrique, a partir de 1096, depois doo seu casamento com D. Teresa
tenham residido em Guimarães, e feito do paço do condal aí existente a sua morada
mais frequente, embora tenham também viajado muitas vezes pelo restante território do
condado. Por isso se formou a tradição de aí ter nascido e baptizado D. Afonso
Henriques, facto que alguns historiadores recentes têm posto em dúvida, sem para isso
apresentarem provas concludentes. É evidente que as dúvidas a este não diminuem em
nada a ligação simbólica do nosso primeiro rei a Guimarães, dado que se situava aí a
honra patrimonial de seus pais.
De resto a mesma ligação não fez mais do que aprofundar-se, em termos não só
simbólicos mas também objectivos e históricos devido ao facto de ter sido o castelo de
Guimarães aquele que constituiu a mais importante fortaleza com que o infante se
revelou contra sua mãe D. Teresa, pouco antes da batalha de São Mamede, e depois de
ter sido o local onde o mesmo infante resistiu heroicamente ao cerco posto por seu
primo Afonso VII 1127.
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